Fortaleza. O Fórum Cearense dos Comitês de Bacias Hidrográficas (FCCBH), formado pelos 12 Comitês das Bacias Hidrográficas do Ceará, se reuniu, nos últimos dois dias, em Fortaleza e, dentre outras resoluções, reivindica uma campanha veemente por parte do governo do Estado para que a população passe a fazer o uso racional da água.
>Maior defasagem da quadra chuvosa deve ser em maio
“Essa iniciativa já deveria ter sido tomada há um ou dois anos. Quanto mais demorada, maiores serão as consequências depois”, disse Alcides da Silva Duarte, que, após o encontro, na manhã de ontem, foi reconduzido como coordenador geral do Comitê das Bacias Hidrográficas.
Para Alcides, o racionamento, palavra que ele prefere usar eufemisticamente como “uso racional” será inevitável. “A palavra racionamento é muito forte. Mas é o que vai ter que ser feito. A situação é demasiadamente crítica. Quando a bomba estourar, vai ser mais difícil explicar à população os motivos que levaram a protelar essa decisão”.
O coordenador do Comitê diz que aguarda um encontro com o governador Camilo Santana para discutir os problemas decorrentes da escassez hídrica no Estado. “Esse encontro está sendo intermediado desde o dia 12 de maio, por meio da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH). Se não tivermos êxito, vamos procurar a Assembleia Legislativa para promovermos uma audiência pública. Não estamos em busca de embates ou de criticar por criticar. Queremos ser ouvidos como representantes das águas, já que formo eleitos para o Comitê pela sociedade organizada”.
Desperdício
A campanha de conscientização da população é, no entender dos integrantes do Comitê, essencial. “Muitos segmentos ainda não estão entendendo o momento pelo qual estamos passando. Ainda tem muita gente lavando calçada e desperdiçando água durante o banho”, aponta.
Dentre outras propostas levantadas no Fórum, a dessalinização da água do mar para ser utilizada na indústria, além do reúso foram citadas. “Precisamos mudar essa situação. Na agricultura, por exemplo, é importante que se busquem novas tecnologias, como o gotejamento e a aspersão. Não é possível mais se plantar por inundação, como sempre foi feito tradicionalmente”.
O encontro contou com a participação da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), sede e regionais e da Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH). No encontro, o presidente da Cogerh, João Lúcio Farias, destacou a necessidade de “encontrar novos caminhos para solução do desabastecimento hídrico. Um deles é a dessalinização de água do mar, para atender o Porto do Pecém. Com a dessalinização, podíamos aliviar regiões do Estado, como irrigantes e empresários que geram empregos, pensando assim na economia do Ceará. Com a experiência que temos, vejo que podemos encontrar alternativas”.
O representante do secretário dos Recursos Hídricos, Carlos Campelo, frisou que o papel dos Comitês é fundamental diante da crise hídrica.
Articulação
Para o diretor de Planejamento da Cogerh, Ubirajara Patrício, o Fórum é um momento de articulação entre os Comitês e o Sistema dos Recursos Hídricos do Ceará, que gera troca de experiências entre os Comitês.
Alcides da Silva lembra que o Fórum é importante para o fortalecimento dos Comitês, além de estar em processo de crescimento e reconhecimento. Segundo ele, entre as experiências exitosas apresentadas pelos Comitês, uma delas será selecionada para apresentação no 17° Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas (Encob), em Caldas Novas (GO), de 4 a 9 de outubro de 2015.
O FCCBH também entregou a Comenda Antonio Zaranza ao padre Manoel Bezerra Machado, do Comitê da Bacia Hidrográfica dos Sertões de Crateús, idealizador da Escola de Família Agrícola de Independência. Foi realizada também palestra sobre Cadastro Ambiental Rural.
Situação crítica
O volume médio dos reservatórios monitorados pela Cogerh é atualmente de 19,9%, o menor dos últimos dez anos. A situação só tende a se agravar. Para se ter uma ideia desse panorama sombrio, no último dia 5, a reportagem mostrou que a situação de alguns açudes era crítica. De lá para cá, só piorou. E a tendência é se agravar mais ainda.
Capacidade
O terceiro maior açude do Ceará, o Arrojado Lisboa (Banabuiú), se encontrava com 1,29% da sua capacidade de armazenamento. Esse índice caiu ainda mais, para 1,26%. A última vez que atingiu uma situação tão precária foi há 15 anos, no período de 1997 a 2001. Três anos depois, entretanto, o reservatório voltou a acumular água, e, em 2004, sangrou. A possibilidade de que isso possa voltar a acontecer em breve é mínima.
Em termos de bacia hidrográfica, no início de abril passado, a mais crítica era a dos Sertões de Crateús, que acumulava 4,51%. Agora está com 4,79%. No início deste ano, acumulava 0,6%. A bacia do Baixo Jaguaribe está com 1,46%. A do Curu passou de 3,0% para 4,98% no início de maio e agora voltou a cair, para 4,844%.
O quadro também permanece grave na Bacia do Banabuiú que apresentava há dois meses um volume médio de 5,68% e caiu para 5,30% no início deste mês. Ontem, apresentava índice de 4,3%. Um quadro confortável permanece na Bacia do Alto Jaguaribe que tem volume médio de 37,51%, mas, em abril passado, era de 38,20%. Apresentou perda de volume.
A Bacia do Salgado acumula 22,97% e a do Médio Jaguaribe, 19,62%. Ambas perderam volume em maio. A Bacia do Coreaú que estava com 24,81% saltou para 36,16%. A do Litoral também deu um salto importante de 15,17% em abril para 43,74%. A Bacia Metropolitana contabiliza 39,97% e a da Ibiapaba 24,69%. A do Acaraú aumentou de 13,86% para 14,45% no início de maio e voltou a declinar para 13,98%.
A situação é mais que preocupante. No fim da quadra chuvosa do ano passado, o volume acumulado nos açudes monitorados pela Cogerh era de 32,21%. Agora é de apenas 19,9%, podendo diminuir ainda até o próximo dia 31 quando, oficialmente, termina o período.
A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) já avisou que o quadrimestre chuvoso foi abreviado pelo fenômeno El Niño (ler matéria abaixo), o que levou muitos trabalhadores rurais a se manifestar solicitando ao Governo do Estado, dentre outras coisas, a ampliação do seguro Safra.
Mudanças climáticas
Especialistas em mudanças climáticas apontam que as condições extremadas se acentuarão mais ainda nos próximos anos. Isso significa dizer que as secas que atingem a região do Semiárido brasileiro se tornarão mais severas.
Dos 151 açudes monitorados pela Cogerh, nenhum está sangrando e apenas cinco estão com seu volume acima de 90%: Caldeirões, em Saboeiro; Gameleira e Quandu, em Itapipoca; Gavião, em Pacatuba e Barragem do Batalhão, em Crateús.
Mais informações
Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
Rua Rui Barbosa, 1246,
Aldeota – Fortaleza-CE
Telefone: (85) 3101-1088
Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh)
Rua Adualdo Batista, 1550
Parque Iracema – Fortaleza-CE
Telefone: (85) 3218-7020