A estiagem que se abateu sobre o Nordeste, neste início de 2012, frustrou as expectativas do governo cearense para a produção agrícola do Estado. No ano passado, o Balanço das Exportações Cearenses para 2011 com foco no Agronegócio, elaborado pela Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), comemorava o bom desempenho do setor e projetava com otimismo, para 2012, a manutenção da recuperação da produção agrícola cearense.
Segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), as previsões eram de que ocorresse, este ano, uma estação chuvosa normal (40% de probabilidade), sendo a probabilidade de ser acima da normal de 25% e, abaixo, de 35%, com a possibilidade de 65% de o Ceará ter em 2012 um inverno normal.
O que se viu até agora, no entanto, foi o contrário. A estação chuvosa no Ceará, que ocorre de março a junho, este ano apresentou pluviosidade anormal. Segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), realizado pelo IBGE no período de 16 de março a 15 de abril deste ano, o Estado apresenta um desvio negativo de 61,6% na pluviosidade (87,8 milímetros) em relação à normal, que é de 227,1 mm.
Todas as oito macrorregiões do Estado apresentaram desvio negativo em relação à pluviosidade normal. Neste contexto, os perímetros irrigados surgem como verdadeiros oásis verdes de produção. E são eles que irão garantir o abastecimento do Ceará e Estados vizinhos em meio à seca. Produtores de forragem para gado e de sementes no Perímetro Irrigado Jaguaribe Apodi estão trabalhando para atender à crescente demanda das regiões afetadas pela estiagem deste ano.
Colheitadeiras na chapada estão fazendo a silagem de milho para consumo animal, no caso, para o gado que sofre com a seca nos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Bahia. Alexssandro Guerreiro, zootecnista e produtor de leite e silagem em 50 hectares (ha) no perímetro, diz que saem por dia da fazenda 40 caminhões de 15 e 30 toneladas de alimentos para gado. “Vai chegar uma hora que vai faltar se não tivermos áreas novas para plantio. No ritmo que estamos produzindo hoje, em um mês ou, no máximo, dois meses, não teremos mais o que colher”, afirma.
Segundo Guerreiro, o tempo para produzir novas áreas é de 90 dias. “Esta produção está sendo colhida com 82 dias. Se o Governo não liberar mais áreas, uma nova colheita só daqui a três meses. Tem outros produtores dentro do projeto, mas são áreas pequenas de 6 ha a 12 ha que não atende à demanda atual”, garante. (Rebecca Fontes)
Saiba mais
Produção como alimento do gado Raimundo César dos Santos, o Alemão, coordenador da Federação das Associações do Perímetro Irrigado Jaguaribe Apodi (Fapija), diz que tem gente vindo de outros Estados para conseguir silagem.
A silagem é um método de conservação de forragem para alimentação de animais e consiste de matéria orgânica proveniente da colheita de plantações comerciais, geralmente leguminosas ou gramíneas bem picadas, armazenada em silos verticais ou trincheiras revestidas com plástico.
Os produtores do projeto Jaguaribe Apodi estão liberando uma média de 40 carretas/dia com silagem.
Alemão afirma que esteve, em maio, com o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, em busca de autorização para liberação de áreas para fazer silagem. “Ele autorizou na hora. O procurador geral do Dnocs, Arlen Sousa, também confirmou a possibilidade de liberação de 1.000 hectares, que podem ser agilizados rapidamente. Se tivéssemos hoje esses 1.000 ha colhidos já estariam totalmente vendidos”, garante. (RF)
Números
87,8 milímetros foi a média de chuvas no Ceará registrada entre 16 de março e 15 de abril