José Gualberto do Nascimento e Sebastião Vieira da Silva observam o trabalho frenético de homens e máquinas rasgando o solo em meio ao emaranhado de tubulações de água, esgoto, galerias de drenagem, cabos de energia e, sobretudo de dados. Com 72 e 74 anos respectivamente, os dois aposentados lembram-se do tempo distante em que Iguatu era abastecida por água subterrânea. Tempo que, em virtude da prolongada estiagem que se abate sobre a região, está prestes a voltar. Em 2012, quando acumulava 259,15 milhões de metros cúbicos de água (96,4% de sua capacidade), as reservas do Açude Roberto Costa, o Trussu, iniciaram trajetória de queda. Hoje restam no reservatório apenas 7,21 milhões de metros cúbicos de água (2,68% do que pode armazenar) e a iminência do colapso no abastecimento das populações de Iguatu e de Acopiara. “Diante desse risco, assumimos o compromisso e estamos realizando talvez a nossa obra mais significativa do ponto de vista da quantidade de pessoas beneficiadas. Só em Iguatu, são mais de 100 mil habitantes”, destaca João Lúcio Farias, presidente da Cogerh.
João Lúcio refere-se à adutora que ligará a antiga bateria 12 de poços que abasteceu Iguatu no passado à Estação de Tratamento de Água (ETA) do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) da Prefeitura de Iguatu. A bateria esteve praticamente desativada desde a construção do Trussu, no fim dos anos 1990. “Além da adutora, a Cogerh já realizou a limpeza e testes de vazão nesses poços. A maioria esteve desativada há muitos anos”, Lembra o presidente da Cogerh. Com o chamado “desenvolvimento” dos poços os técnicos do SAAE receberam as informações necessárias para utilizar os poços de forma sustentável. “Há um excelente potencial na região. Mas a adutora que já existe e que abasteceu a cidade no passado, é de pequeno diâmetro. Com a nova adutora que estamos construindo, vamos dobrar a vazão, aumentando a garantia hídrica da cidade”, explica Bruno Rebouças, diretor de Operações da Cogerh.
A adutora não chega a ser grande em extensão. São apenas 1.390 metros de tubulação de PVC DEFoFo de 300 milímetros. “Há dois pontos mais complicados nessa obra: a travessia do Rio Jaguaribe e o trecho urbano, no qual encontramos muitas intercessões com outras tubulações, cabos de dados etc”, explica o engenheiro Antônio Carlos Bortolin, responsável pela obra. “Estamos acompanhando de perto a execução dos trabalhos, que estão num ritmo muito bom. Dada a urgência dos serviços, temos de ter o máximo de atenção para que os prazos sejam cumpridos”, detalha Bortolin.
Açude agoniza
Nos dois últimos anos as chuvas no Ceará giraram em torno da média histórica. Contudo, a má distribuição das precipitações provocaram uma divisão clara de cenários quando se observa a acumulação de água no território. Nas bacias situadas mais ao Norte (e Litoral) do Estado, onde já havia mais água acumulada, as boas chuvas proporcionaram também bons aportes (veja quadro). Já a porção situada no centro e mais ao Sul do Ceará sofre com recargas ruins ano após ano desde o início da atual quadra de seca, em 2012.
É justamente no Centro-Sul que está localizado o Açude Roberto Costa, o Trussu. Concluído em 1996 em área compreendida entre os municípios de Iguatu e Jucás, o reservatório passou a abastecer não apenas a sede municipal de Iguatu, mas também a área urbana de Acopiara. Hoje, assim como outros grandes reservatórios situados na área mais ao centro do Estado (Castanhão, Orós, Banabuiú) o Trussu acumula menos de 3% de sua capacidade, colocando em risco o abastecimento das duas cidades. Em 2012 – quando ainda armazenava quase 95% de sua capacidade total, o Comitê de Bacia do Alto Jaguaribe e a Comissão Gestora do açude decidiram por uma liberação de 800 litros de água por segundo.
Esse volume atendia ao abastecimento humano, dessedentação animal e Irrigação. Com o agravamento da estiagem, já em julho de 2017, a decisão do comitê foi pela liberação zero, ficando a água apenas para abastecimento humano. “Graças à gestão ainda temos alguma reserva no Trussu”, explica Bruno Rebouças. Segundo ele, à medida que o quadro de seca foi se agravando, medidas de restrição foram sendo adotadas juntamente com os colegiados para não exaurir o manancial. “Mas tudo tem limite. Esperamos que a região volte a receber boas chuvas para recuperarmos os estoques de água nos nossos reservatórios”, diz.
Diversificação da matriz é aposta para aumentar a garantia hídrica
O secretário Francisco Teixeira (SRH), costuma afirmar que, em recursos hídricos não exstem alternativas excludentes nem definitivas. Trocando em miúdos, Teixeira diz que, no semiárido equatorial, não há solução única, uma fórmula, mas um somatório de medidas que resultam na melhoria da garantia hídrica. Corroborando com o secretário, Bruno Rebouças destaca que, aquilo que serve pra um caso, nem sempre serve para outro: “Nos deparamos com as situações mais diversas e, para essas situações, medidas igualmente diversas”, pontua.
É no âmbito do Grupo de Contingência que as soluções costumam aparecer. Para uma cidade, poços profundos, para outra, a construção de adutora. Uma pequena comunidade pode ser atendida por dois chafarizes. “A peleja é diária, mas o governador Camilo Santana, além de garantir os recursos para as obras emergenciais, não perde de vista o planejamento estratégico. Por isso estão em andamento projetos importantes como o da dessalinização e o do reúso de efluentes (esgoto) para indústria”, destaca João Lúcio Farias.
“Esses projetos são de fundamental importância para o Estado que, mais uma vez, em recursos hídricos, sai na frente com a primeira planta de dessalinização de grande porte do País”, avalia Farias. Para o presidente da Cogerh, a busca por novas fontes, como o aquífero dunas também ajudará no aumento da garantia hídrica. “Temos, por exemplo, um grande potencial de água subterrânea no nosso litoral. A Cogerh já vem estudando isso desde o início dos anos 2000. Agora é a hora de explorar esse potencial,“ aponta.
Campanha educativa alertará população para uso racional da água
Diante de todo o esforço que o Governo do Estado e a prefeitura estão empreendendo para garantir o abastecimento da população do município, o superintendente do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Iguatu, Rafael Rufino, anuncia para os próximo meses, campanha educativa alertando para necessidade do uso parcimonioso da água. “Agente sabe que, embora a gente disponha de grande potencial hídrico no subsolo, tem buscar a racionalidade no uso da água”, defende o superintendente do SAAE.
“Estamos formatando uma campanha educativa que pretende envolver as secretarias de Saúde e de Educação devido à capilaridade dessas pastas”, explica Rufino. Segundo ele, agentes de saúde e profissionais da chamada atenção básica de saúde levarão mensagens à população sobre o uso racional da água. “Na outra ponta, os profissionais da educação infantil vão levar mensagens para as crianças. A esperança é atingir os pais por meio dos pequenos”, revela.